Era uma vez um segredo...

Quis contar-te um segredo, recusaste-te a ouvi-lo. A partir daí marcaste a distância que existia entre nós que a névoa dos meus olhos não me permitia ver. Para ti um segredo é algo com pouco significado, afinal é comum a toda a gente. Quem é que não tem um segredo? No entanto, não insisti em desabafar contigo, também nem um pouco sensibilizado te mostraste em perceber o que ia em mim. Não foste capaz nesse momento de perceber que a partilha de um segredo que eu faria contigo iria de certa forma demonstrar que eras especial para mim e que eu confiava em ti.
Aos meus olhos, sempre foste a pessoa perfeita. Preocupavas-te comigo, até mostravas que tinhas tempo para as minhas parvoíces, estavas constantemente a meu lado independentemente se eu estivesse aqui, na Lua ou no outro lado do mundo, e eu inocentemente acreditava nesses gestos de carinho. Nós éramos capazes de passar longos minutos em silêncio ao lado um do outro. Sabes, eu sempre acreditei que apenas as pessoas que tinham grande confiança, proximidade e verdadeiro conhecimento um do outro é que eram capazes de estar lado a lado em silêncio. Há quem encare o silêncio como um obstáculo entre dois seres, mas connosco era diferente, eu pelo menos tentava através dele falar contigo, escondia as palavras que não querias ouvir e o meu olhar era a minha voz. Um sincero olhar no silêncio pode dizer tanto, mas infelizmente não é compreensível a todos, só pessoas verdadeiramente próximas e puras é que percebem quantas palavras e sentimentos transporta um olhar. Talvez tu nunca tenhas entendido o meu olhar a falar, talvez a tua insensibilidade estivesse mais presente do que eu imaginara. Momentos de silêncio que para mim foram puros instantes de delicada procura da minha alma pela tua, para ti não passaram de “tempos mortos”, contudo eu ainda acredito que foram algo mais para ti.
Eu hoje ainda guardo as palavras que em tempos tanto te quis dizer. O segredo continua em mim, mas com o tempo acabou por perder significado. Sabes porquê? Porque o segredo, era que eu te amava, e agora isto não faz mais sentido, afinal somos apenas amigos de longa data e há muito que eu não procuro momentos de silêncio contigo.

Paisagem

Olho para aquele jardim resplandecente, onde se vislumbra a mais perfeita junção de céu e terra. Encontro uma sensação de paz respirável, sinto o vento calmo e quente a passar pela minha pele, o sol descobre o mais perfeito brilho de meus cabelos que esvoaçam livremente. É neste momento que te sinto a meu lado, o teu perfume me abraça como gesto de segurança, tuas mãos tocam subtilmente nas minhas e arrepiam até o lugar mais obscuro de minha alma, finalmente é o teu beijo que desperta em meu corpo todas as sensações imagináveis, sinto-te em plenitude e só isso me basta para mergulhar no maior prazer, que é o de te ter e sentir-te. Tenho a certeza que tu és o responsável pela minha existência, tens uma capacidade enorme de me proteger e mostrar o lado mais perfeito da imperfeição.
Sinto uma rajada de ar, frio e aterrador. Já não estás a meu lado, já não me abraçass e caio num precipício de desilusão. Afinal tudo isto foi um sonho. É verdade, não voltas-te para mim, apenas voltei a recordar aquilo que já somos e nunca mais voltaremos a ser. Fecho os olhos de novo com esperança de voltar ao irreal, mas volto a ver um jardim, mas desta vez um jardim pálido, vazio. Volto a ver-te ao fundo e corro para ti, vontade enorme de te abraçar, mas, abraço apenas uma lufada de ar, tu não estás. Dói tanto não te sentir, mais até do que abraçar uma pedra dura e que hipoteticamente possa ter espinhos.
Tu, estás bem longe do meu coração gelado e muito mais longe da minha vista. Já há muito tempo que não te vejo, apenas tenho uma ligeira recordação do teu rosto nos meus sonhos, pouco me resta de recordação física tua, mas ainda consigo sentir teu cheiro, são raras as vezes, mas sinto. É verdade, não temos um presente junto mas já tivemos um passado nosso, lembras-te? Quer queiramos ou não esse passado fará sempre parte das nossas vidas. Por mais insignificante que eu possa ter sido para ti, apesar de tudo tive o privilégio de ter entrado na tua vida e de te ter na minha, e sei que também gostas te de ter marcado a minha história.
Agora, apenas te recordo nos meus sonhos, e já começam a ser escassos. Já não dói tanto ter de gostar cada vez menos de ti, a réstia de carinho que ainda sinto por ti vai se esgotar, talvez eu volte a ser livre de novo, volte a ver o jardim colorido e tranquilizador, mas desta vez sem ti, apenas eu. Não serás razão suficiente para eu fechar os olhos a metade da beleza do que me rodeia. A verdade é que contigo ou apenas comigo, eu vivo e orgulho-me disso.
Obrigada. Obrigada, por me teres feito crescer, por me ensinares que afinal eu sou lutadora capaz de enfrentar uma perda, e melhor que tudo, ensinaste-me a amar-me e eu agradeço-te isso do fundo de meu coração.

Oiço agora o tick tack do relógio. Shiuu, ele avisa-me que a vida passa, não há tempo a perder, a vida pode voltar a ser minha e eu posso voltar a ser feliz.

Até um dia.

Note.

[Imagens recolhidas do Google e do DevianArt]

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