Sensações e ilusões

Olhei, cheirei, toquei, abracei e chorei, tudo pela última vez. Vi-me rodeada de fotografias, papéis, pulseiras, lembranças de não sei quem, pedaços ti, de ti e ainda de ti, objectos que já nem sei qual o seu valor, um dia foram importantes e hoje até já me tinha esquecido que existiam. Sentada no chão do meu quarto, completamente abstraída deste calor infernal, apenas entregue ao mundo das recordações. Sorri inocentemente ao deparar-me com tal quantidade de objectos anónimos.
No fundo é bom voltar ao passado de uma forma inesperada mas que acalenta um coração cheio de saudades daquilo que já fui e não mais voltarei a ser. Tenho uma certa dificuldade em afastar o passado, quanto mais longe ele está mais me apego a ele. Mas agora preciso apenas e somente libertar-te de ti, quero que fiques tão longe quanto está o Nosso passado.
E foi hoje. Peguei em tudo o que era teu e deitei janela fora. Abri o baú das recordações e expulsei tudo o que já não faz sentido na minha vida. Tu és uma delas. Vi o vento levar cada bocado de mim, ainda tentei agarrar de novo cada pedaço despedaçado, foi em vão, já estava destinado me separar de ti definitivamente. Antes disto, com receio da despedida final até criei uma banda desenhada só para ti, onde eras a personagem principal. Prendi tu o que era teu a uma folha de papel, peguei em lápis de cor e pintei com as cores mais bonitas o mundo que deixamos por construir. Mas não eras tu, era um boneco, sem sentimentos, sem voz nem pensamentos, que sorria quando eu queria, desaparecia quando por momentos me esquecia de ti. Peguei nessa história infundada e deitei, sem remorsos, para o mundo lá fora. Agora, até nunca mais. Cria raízes noutro coração inocente e não voltes atravessar meu caminho. Olho para trás já não há nada, apenas vento acariciar o meu rosto, o mesmo vento que te levou para outro destino, que eu não sei nem quero saber qual é.

Eu até tentei...

Experimentei todas as formas possíveis e imagináveis esquecer-te. Fechei os olhos e tentei fazer uma lavagem á minha memória, para esquecer esse teu sorriso que me apaixonou, mas não adiantou. Decidi comprar um bilhete de ida para a terra do Nunca, para Nunca mais me recordar de ti, mas as passagens estavam esgotadas. Procurei a chave da porta do meu passado para te fechar num mundo esquecido, mas surgiu na minha mente a tua faceta de claustrofóbico, apesar de tudo não te quero provocar muito sofrimento, então reneguei esta ideia. Cheguei até ao ponto de contar carneirinhos, com o objectivo de te tirar do meu pensamento, mas a verdade é que acabava por adormecer.
Como é óbvio todas estas tentativas foram um fracasso. Na realidade, tu fizeste e fazes parte da minha história de vida, deixas-te a tua marca no meu passado. E todas as histórias, felizes ou menos felizes, têm um passado, um presente e um futuro. E como eu tenho todo direito a ter a minha história completa, decidi dar-te abrigo e deixar livre a tua presença onde quer que seja. Apenas te peço para não me incomodares, controla a tua inquietação e não tomes de assalto os meus pensamentos.
Tentei tirar-te do pensamento, mas a verdade é que vives no meu coração.

Perco os sentidos

Estás em frente a mim, um metro é simplesmente o que nos afasta. Fixo meus olhos nos teus e perco-me em tal simplicidade e encanto. Redondos, cor de avelã, penetrantes e apaixonantes, são assim os teus olhos, o meu pecado e maior perdição.
Atrás de ti o azul do mar, o barulho das ondas a abraçar areia como se fossem um casal de apaixonados que se funde num abraço caloroso e forte. Era abraçada a ti que eu queria estar naquele instante. Mas o pedaço de areia que nos afasta parece um longo caminho, não tenho coragem de me aproximar do teu corpo. Tenho medo de te tocar e me viciar na tua pele um pouco queimada do sol mas que me atrai de forma brusca.
Passam horas e enrolados na nossa conversa nem sentimos o tempo passar, tudo á nossa volta anda, rodopia, corre, grita e foge. Mas nós continuamos sentados como de inicio, tal e qual, eu mergulhada nos teus olhos e o meu sorriso a cativar-te.
Lentamente, de uma maneira hesitante vais aproximando tua mão da minha. Sinto como se tivesse dentro de mim um bando de borboletas tropicais, raras e de grande beleza. Tocas-me levemente. Como é bom sentir-te. A tua mão suada devido ao calor estranho daquela tarde de Primavera aos poucos segura na minha. Teus dedos sobre os meus, em movimentos suaves e amorosos entrelaçam-se. Estes momentos fascinam-me, em longos segundos te sinto cada vez mais perto de mim. Apenas estamos de mãos dadas, mas o vento delicado que nos faz companhia é como se me abraçasse e me fizesse sentir segura a teu lado. E agora. Um turbilhão de emoções invade meu corpo por inteiro, arrepios demonstram o nervosismo que vai em mim. Tu aproximas teu rosto do meu, os teus olhos voltam de novo a ter um grande controlo sobre meus movimentos, sinto a tua respiração sobre mim, certamente és capaz de ouvir o bater do meu coração, revolucionas-te todo o meu corpo. Os teus lábios, sinto-os subtilmente nos meus, fecho os olhos e deixo-me levar por ti, agarras-me forte, parece que perco os sentidos, apenas o teu beijo me mantém viva.
Calmamente nos voltamos afastar, teus lábios deixam os meus, volto a centrar-me nos teus olhos, e deixo fluir com a minha voz trémula palavras sem sentido mas que tu foste capaz de compreender. Provocas te em minha alma, corpo e mente uma das melhores sensações que já vivi. Calor arrebatador que fez explodir meu coração, arrepios que cobriram todo o meu corpo, tremer das minhas mãos que te tocavam, o perder de sentidos que me fez descobrir que eras tu a minha fonte de vida. Tudo isto num simples toque de lábios e troca de saliva.
Foste sonho, foste momento, foste parte de mim.

Aqui e agora.

Ao longo do jogo que é a nossa vida, constatamos que dentro da nossa cabeça acontecem dezenas de equações problemáticas com um elevado nível de dificuldade de resolução. Pensamos nós que isto é a principal razão pela qual o jogo da nossa vida acaba tão rápido. Mas se realmente tomarmos atenção existem outros componentes que interferem directamente com este jogo de longos minutos.
Inconscientemente passamos os dias a relembrar o Passado e a partir deste construímos o Futuro, no entanto entre estes dois espaços temporais deixamos passar despercebido o Presente. Uma real dádiva que deixamos deslizar entre os nossos dedos, consequência disto é que somos incapazes de usufruir do tempo que passa.
Inevitavelmente surgiu na minha mente uma questão um pouco pertinente.
-“Como posso então aproveitar cada momento, o dito Presente?”
E então uma voz madura me respondeu:
-“Respira. Pratica o silêncio e a tranquilidade”
Pois bem, após isto tomei consciência de como desperdiço cada instante. Sempre que estou ocupada tenho o meu pensamento permanentemente noutro lugar distante daquilo que estou a fazer. Por exemplo, se estou de férias tenho tendência a pensar sobre o inicio das aulas, e quando estou em tempo de escola apenas me ocorre no pensamento as tais férias. Ou seja, além de “sofrer” antecipadamente com o chegar do inicio das aulas deixei de aproveitar as férias tão desejadas. Começo achar que devemos ser os seres mais inconstantes, descontentes e incompreensíveis.
Contrariamente ao que achamos, nós somos controlados pelos pensamentos. São eles os principais culpados por não aproveitarmos o Presente, eles têm um poder enorme de nos bloquear e distrair do momento vivido. Outro exemplo, quando vamos a um lugar bonito, temos a tendência de fazer o seguinte comentário: “que lugar bonito, quero cá voltar um dia!”, será que nos custa tanto assim perceber que já estamos naquele tal “lugar bonito”? Apenas nos ocorre a ideia de irmos lá futuramente e deste modo somos impedidos de usufruir daquela oportunidade. Seria muito mais fácil e proveitoso relaxar e concentramo-nos no que estamos a fazer naquele momento.
O que realmente precisamos de aprender é a saborear cada momento, para isso é necessário activarmos a nossa atenção plena. Comecemos por observar este preciso momento. Vê, cheira e ouve. Não te preocupes com as sensações proporcionadas sejam elas boas ou más, apenas deixa-te levar por elas. E repete para ti: ”agora, agora, agora”. Isto é um pouco do Presente que teimamos a ignorar.

“Saborear. Apreciar o momento faz as pessoas mais felizes – não apenas o momento em que o chocolate se derrete na boca, mas o seu efeito duradouro.”

Gostei...

"Gostar, sentimento algo profundo, capaz de dominar qualquer sentimento racional. Penetra na nossa mente, acalenta nosso coração e escolhe cada palavra trabalhada pelas cordas vocais. Permite esquecer tragédias, relembra que estamos vivos e alimenta nosso sorriso."

Eu hoje poderia: amar-te, odiar-te ou ignorar-te. Aparentemente é uma escolha difícil. No entanto tu com o teu ego elevadíssimo acreditas seriamente que eu te amo. Mas lamento, erras-te desta vez. Eu desisti de ser apenas mais uma na tua vida. Contudo, admito aqui mesmo, que gostei de ti, não amei é certo, mas tive um carinho bastante especial por ti, podes acreditar. Ao longo de um tempo na minha vida, tu foste a luz que iluminava o meu caminho, a minha inspiração constante, a água que saciava a minha sede, aquecias o meu coração com palavras de amor e eu respondi da mesma forma, apenas te queria ver feliz. Era impossível eu imaginar um futuro sem ti, hoje percebo a minha ingenuidade, acreditava que a minha vida apenas tinha um sentido, TU! Mas um dia…Puff, tudo desapareceu. Onde estás? Perguntas como esta preencheram a minha cabeça por períodos prolongados. Dentro de mim existia um vazio enorme.
O normal agora seria odiar-te. Provocas-te em mim um grande sofrimento que eu sei que não merecia, apenas te queria ver feliz a meu lado. Mas odiar-te é coisa que não consigo. Jamais deixaria me auto-destruir só a pensar em vinganças. Não, não e não. Sabes bem que ódio não faz de todo parte da minha personalidade, não tenho paciência nem capacidade mental para suportar tal sentimento em mim.
Só me resta ignorar-te. Com o tempo vou aprendendo a que tu me sejas indiferente. É certo que ainda escrevo para ti, mesmo sabendo que tu não lês, apenas tenho esta forma de libertar tudo o que está no meu coração.
Prefiro ignorar-te porque só desta forma tenho noites tranquilas, longe dos pensamentos que um dia me atormentaram. Só sendo indiferente é que conseguirei chegar um dia á minha meta, que é esquecer-te.Um dia gostei de ti, hoje tento ignorar-te. A vida faz disto.

Não fales...

Não fales. Só te peço isso. Neste momento qualquer som provindo de ti provoca uma estranha sensação de desconforto em mim. As tuas palavras são tudo o que não quero ouvir. Toma atenção ao silêncio, deixa-me reconfortar minha alma com ele, apenas eu e o som mudo. As tuas palavras são tão cruéis, o meu coração é frágil e tu chegas a ele da forma mais brutal que alguém conseguiu.
Vim me apercebendo que o Nada é melhor companhia que tu. Sai da minha beira, nem o teu respirar suporto, transportas péssimas energias ao meu ser. Constantemente me distorces a realidade que eu vejo, não é isso que eu quero, deixa-me ver o mundo á minha maneira, da cor que eu gosto, da perspectiva que me parece mais adequada, não me roubes os meus olhos, eles são a porta que eu tenho para o mundo.
Não insistas. Não te vejo, não te oiço nem te falo. Apenas me quero abstrair do teu mundo.
Vai embora, quero estar sozinha. Neste momento não tenho medo de ficar sem ti, fico bem comigo mesma.

Foi dedicação...

Foram meses, dias, horas, minutos da minha vida que eu te ofereci. Poderia ter-te oferecido algo mais precioso? Cada minuto contigo foi vivido com tal intensidade e dedicação por minha parte que tu até que inconscientemente davas valor, e amavas os gestos de carinho que eu tinha para contigo. Eu acordava e adormecia a pensar numa conjugação de belas palavras que pudessem transmitir aquilo que ia no meu coração, eu escrevia e tu lias com teus lindos olhos, e sorrias como se o teu mundo ganhasse outra dimensão irreal, onde tu eras a personagem principal e eras amado como ninguém antes tinha sido. Sempre gostas-te de ser o centro e que tudo á tua volta funcionasse tendo em conta o que gostas ou não, tu eras o sol e tudo o resto era secundário. Eu não me importei com isso, sabia que no fundo tu tinhas sentimentos, eras quente como o sol e o teu corpo me aquecia e me transportava para uma paz imensa. Para mim o importante era que tu te lembrasses que eu existia e que estava aqui para te amar, independentemente das tuas escolhas. Começo acreditar que os teus defeitos eram em parte a maior atracção que eu via em ti, tu eras diferente.
Sabias usar as palavras certas no momento exacto, eras dono e senhor da convicção e isso a mim transmitia-me confiança e protecção. Nem imaginas o efeito que a palavra “Amo-te” dita por ti tinha em mim, o meu coração rejubilava de alegria, minha alma encontrava a plenitude da felicidade, todo o meu corpo tremia e meus olhos resplandeciam a esperança de toda uma vida contigo. Eu sempre fui uma menina que acreditava que existia um tal de príncipe encantado, que me vinha buscar no seu cavalo branco e eramos felizes para sempre, mas agora cresci, o príncipe afinal não existe e tu está bem longe de o ser.
Foste capaz de descartar todas as minhas palavras de amor e todas as minhas tentativas de me aproximar de ti foram frustradas. Sistematicamente ignoras-te os meus sentimentos, preferis-te partir á descoberta de novos mundos. És feliz assim? Garanto-te que dificilmente encontrarás dedicação, amor e amizade como eu te ofereci. Apesar da realidade que era composta pelas tuas constantes negações, eu ainda tinha forças para lutar por ti, sempre dei valor ao amor e aprendi a não o deixar morrer sem lutar por ele.
Corri, corri e corri. Humilhas-te e eu continuei a correr, usaste-me e levaste-me para o teu mundo de mentira e descartável. Voltei a correr, mas cansei… não adianta caminhar a passos largos para algo que eu comecei a deixar de acreditar, tu estás longe, se eu continuo a correr provavelmente morro antes de chegar a ti, pelo caminho existem espinhos que tu próprio deixas-te para me avisar que eu talvez deva parar.
Se queres saber, esqueci do caminho que me leva até ti. Se um dia eu tiver de te ter então o vento que te traga até mim, mas não esperes que eu esteja aqui cheia de palavras de amor e com as mesmas mãos macias que te acariciavam o rosto, talvez nessa altura eu já não esteja no sítio que me deixaste, talvez eu também tenha partido á descoberta de novos mundos, e lembra-te que foste tu quem sempre me incentivou a procurar coisas novas.
Eu sei que um dia darás valor ao que eu te dediquei, acredito que adormeces a desejar que eu te diga pura e simplesmente “Boa noite”, mas tu és importante demais no teu mundo para te rebaixares ao amor.
-Inspirado na história da menina que acreditava que um “Amo-te” era sempre sincero. E*

Tarde de Verão

Não me lembro da primeira palavra que troquei contigo, mas lembro-me do dia em que te conheci. Bela tarde de Verão, uma brisa quente acarinhava minha pele, a água salgada do mar humedecia o meu corpo, perfeita união que tranquilizava a mente e me fazia apreciar o quanto a vida é rica em bons momentos.
Com toda a sinceridade pensei que aquela tarde fosse comum a tantas outras que fazem parte da minha história. Contudo, foi nesse pequeno fragmento de dia numa vida, que te conheci. Primeira conversa que tivemos, não deve ter tido qualquer sentido, infelizmente como tenho por hábito descartar o que aparentemente é banal fiquei sem qualquer lembrança das palavras trocadas. Sempre pensei que aquele nosso momento de partilha de uma bela tarde de Verão não passaria disso, de uma banalidade e que não faria crescer entre nós qualquer tipo de ligação. Enganei-me. Tenho um certo carinho por estas ideias vazias em esperança, das quais mais tarde percebo que estavam erradas e no fim me trazem uma surpresa.
Cresceu uma amizade entre nós e continua a crescer. É tão imperfeita mas tão enriquecedora, é feita de palavras. Existem pessoas que não dão qualquer importância às palavras, mal sabem elas que apenas um conjunto de letras bem organizado pode resumir uma vida cheia de alegrias e percalços.
É raro ouvirmos a voz um do outro, mas ouvimos constantemente a voz das palavras que escrevemos, têm um som tão belo, capaz de nos abraçar quando mais precisamos.
Temos uma amizade incompleta, mas capaz de colorir parte da minha vida. Pauta-mos pela diferença, escondemos para nós a importância que temos um para o outro, acredito que aos olhos dos outros aparentamos ser duas crianças que trocam meras ideias sem sentido. Pensa que isso é bom, o mais importante apenas só nós conhecemos.
Depois de tudo isto, aprendi que a única palavra capaz de fazer sentido de mim para ti é Obrigada. Obrigada por teres paciência para escutares todas as minhas palavras escritas.

Note.

[Imagens recolhidas do Google e do DevianArt]

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