Suspiro...

Uma lágrima escorre pelo meu rosto. Passeia pela minha pele e deixa uma marca, que nem tatuagem, do percurso que faz. Brilha á luz e se torna invisível com o escuro. Não quero que me vejas chorar, nem tão pouco que saibas que estou aqui agora.
Não quero fazer barulho mas não resisti a pôr a música com o volume máximo. Quis quebrar também limites e viver tudo a que tenho direito em menos de três minutos, aplicar a intensidade máxima no mais simples gesto, entoar o meu grito mais forte dentro de um poço, beijar loucamente e sentir o calor do teu corpo aquecer-me em cada noite. Não quero saber de regras nem de opiniões alheias, quero soltar toda a energia existente em mim, sentir-me como um vulcão e expulsar para o mundo tudo o que me martiriza diariamente. Por segundos quis me abstrair de tudo em meu redor. Esquecer quem sou e tudo o que fiz até agora.
Mas não suporto a tua distância quando estás perto de mim, isso magoa como se fogo se tratasse e queimasse cada gota do meu sangue, me reduzisse em cinzas e me tornasse invisível aos teus olhos. Não quero ser uma estátua fria e sem coração que tu sucessivamente ignoras. Quero olhar-te nos olhos, tentar desvendar todos os teus pensamentos e vasculhar os teus maiores segredos. Não me importo de ser a folha de papel onde resolves todas as tuas equações, mesmo que estas não tenham solução.
Agora, com a melodia alta da música, vislumbro uma folha a cair da árvore, descendo lentamente sem medo, baloiçando de uma lado para o outro como sendo embalada para um sono profundo, que mais parece o meu coração com as suas batidas fracas mas sentidas que a cada pulsação gritam o teu nome. Resolvi escrever-te uma carta mas faltavam palavras, por mais que usasse a esferográfica, da minha mão não saía qualquer desenho. Há coisas que realmente por mais que tentemos não conseguimos traduzir em palavras, mas o meu coração é mudo para te falar directamente.
Em tempos chorei, ri e voltei a chorar. Cheguei quase ao cume da montanha e uma rajada de vento me deitou abaixo, empurrou-me até ao começo. Por vontade própria comecei tudo de novo. O mesmo caminho, as mesmas pedras, as mesmas quedas. Mas continuei. Dei conta estava perto do sítio onde o vento me havia empurrado, então esperei a ventania acalmar e escondi-me numa gruta, lá permaneci horas sem as poder contar. A noite tomou o lugar do dia e o silêncio acompanhou-a. Por teimosia decidi continuar caminho, na esperança que o vento tivesse adormecido. Não sentia-a absolutamente nada, em momentos tinha dificuldade em respirar, tudo era abafado e nem lágrimas conseguia expulsar. Tropecei. E cai. Sem dar conta voltei ao inicio. Mas desta vez não havia vento a empurrar, não havia nada. Eu cai sozinha sem saber o porque e magoei-me. Tu chegas te e saras te a minha ferida, deste-me a mão e ajudaste-me a subir a montanha sem criar a expectativa de alcançar rapidamente o cume, ensinaste-me a ser cautelosa e ser ambiciosa precavida. E desde daí nunca mais te larguei, tornaste-te o meu porto de abrigo onde me resguardo das tempestades. Contigo quis começar tudo de novo, não quis mais caminhar sozinha. Há caminhos impossíveis de atravessar na solidão. Mas há dias que és incapaz de secar as minhas lágrimas, não é por falta de vontade tua, apenas porque os teus lenços se tornam escassos para tanta água vinda do coração.

Uma lágrima atrás da outra como sufocando os meus olhos. Sinto o seu sabor salgado e arrepio-me de saudade.

No banco do costume...

Olhei para o relógio e passavam cinco minutos desde que ali estava sentada. No meio do jardim, no banco do costume. A mesma cor verde da relva, os constantes gritos das crianças que por lá corriam, o tranquilizador falar das gotas de água que passeavam no riacho ali há muito existente. Muda, observava cega tudo o que acontecia á minha volta, no fundo estava alheia a toda aquela vivacidade. Olhei de novo para o relógio e já tinham passado uns longos dez minutos desde da última vez. O meu coração começou a palpitar umas mil vezes mais depressa, parecia querer fugir do meu peito e correr á tua procura.

Sei, que inconscientemente tinha a leve esperança que toda aquela espera fosse para mais um dos nossos encontros, mas daquela vez não havia razão para olhar ao fundo da rua e ver-te chegar, estavas uns tantos quilómetros distantes de mim e eu sabia disso.

Ainda ontem tínhamos estado juntos e arrebatado com todas as nossas saudades. E hoje estava eu ali sozinha. Já aprendi há muito que sem ti perto de mim as horas demoram o dobro a passar, por isso mesmo decidi voltar ao jardim e ao banco do costume. Precisava urgentemente de sentir o ar suave e fresco daquela tarde, expulsar de mim certas ideias tóxicas e viajar pela minha imaginação.

Normalmente tenho á minha beira um papel e uma caneta para anotar todas as minhas ideias que nascem de uma inspiração relâmpago, mas naquele momento nem isso tinha, senti um vazio a triplicar. Depois de me irritar comigo própria por tal esquecimento inadmissível tive de me contentar em guardar nas gavetas da minha memória as ideias que me assaltavam repentinamente. Até acho que no meio de tanta imaginação brotaram de mim ligeiros sorrisos que contradiziam o meu estado de espírito solitário.

Confortavelmente sentada e talvez com um olhar perdido, viajei apenas na minha companhia num barco á vela, igual aqueles que juntos já vimos, atravessei mares calmos e recolhi aquele azul brilhante que os caracteriza, senti na minha pele aquela brisa marinha tão revitalizante, vi pequenos habitantes do mundo marinho que vinham até á borda da água dar-me as boas vindas, toquei na água fresca e deixei-a percorrer parte do meu corpo e desaparecer com o calor daquele sol tórrido, passei perto de uma ilha deserta que era dona de uma vasta selva que transpirava sossego e pureza.

Sem aviso um vento forte arrastou-me até á margem e aí reparei que afinal não tinha saído daquele jardim e do banco do costume. Olhei para o relógio e já passava uma hora desde que ali tinha chegado. Resolvi levantar-me e caminhar até casa. Continuei com um sorriso no rosto, afinal viajei sozinha por lugares que na realidade receio e os minutos passaram mais rápido do que o esperado.

Não tirei fotografias, ao que na verdade não vi, porque prefiro através das minhas palavras contar-te cada milha percorrida. Sei que agora, tenho te a ti para partilhar todas as minhas aventuras e juntos sorrirmos das ideias descabidas que possam surgir.

Não gosto de andar sozinha, mas naquela viagem ilusória não tive receio, trazia-te no coração e isso já bastava.

Mais uma página...

Terminei. Mais uma página da nossa história foi escrita. Um livro que lentamente é preenchido por sensações e ilusões que jamais quero esquecer. Quero num futuro longínquo, quando a memória for minha inimiga e me apague toda uma vida, recordar cada pedaço daquilo que é nosso através de palavras soltas do meu coração que com carinho correm apressadamente para esta folha de papel, que a cada gota de tinta da esferográfica se reflecte todo um momento.
Folheio páginas antigas e sorrio a cada instante. Percebo agora o quanto é importante ter uma história, saber o que se passou para finalmente entendermos o que somos.
Uma lágrima desabrocha e cai de um modo elegante neste livro, cresce nela um brilho especial, escorre e desaparece tranquilamente neste mundo de momentos. Procura matar as saudades dos tempos em que era um sorriso. Viaja pelos beijos dados, pelas lágrimas, pelas gargalhadas e pelo tempo que esperei por ti.
Eu já esperei por ti. E continuarei a esperar se for preciso. Procurei-te por todos os lugares que existiam ao meu alcance, imaginava que vivias num mundo longe do meu, mas a verdade é que o lugar mais perto de mim foi o que eu esqueci de procurar. Estives-te sempre a meu lado e eu nem dei conta. O teu cheiro, a tua voz, os teus gestos, tudo era-me imperceptível até um ponto, tanto te procurei que perdi as minhas forças e deixei que fosses tu a encontrar-me. E encontraste-me. Mas desde aí vi-te partir muitas vezes. E outras tantas vezes senti o teu abraço de um regresso inesperado. Mas esperei sempre. Por cada vez que partias eu esperava por ti no mesmo sitio que me havias deixado. Tinha tempo para contar todas as horas, cantar cada nota dos segundos, adormecer com cada por do sol e acordar com o seu nascer. Muitas vezes adormeci com lágrimas nos olhos e frio no corpo, mas o meu coração tinha a esperança do teu regresso que o aquecia. Vi coisas inimagináveis, senti uma grande panóplia de cheiros, senti a barriga roer de fome e a minha garganta ressequida. Mas esperei sempre por ti. Nunca desisti. Acreditei sempre que virias de novo até mim, sentia que eras meu, e o que é nosso volta sempre a nós mais cedo ou mais tarde. Sonhava em cada noite ver te chegar de comboio, desceres com as tuas malas pesadíssimas e caminhares até mim. Chegarmos perto um do outro, tão perto que fosse possível ouvir a tua respiração forte e inalar todo o teu cheiro. Queria olhar-te nos olhos e ler o que eles diziam. Esperava um abraço teu que colmatasse todas as fragilidades que passei pela tua ausência.
Eu esperei sempre por ti, apesar de todas as dificuldades. E tu sempre voltas-te para mim, não em sonhos, mas na realidade. Não chegaste num comboio nem eu adormeci numa estação, mas senti sempre o abraço do teu regresso, tive o prazer de receber um beijo teu e sentir que era levada por ti para outra dimensão, uma que só a nós pertence.

Eu esperei. Tu voltaste. E hoje somos.

Foi mais uma página escrita…

Sonhar não chega...

Todos nós temos sonhos e a sede de os realizar. Criamos expectativas elevadas sem termos bases para as segurar, procuramos um porto seguro para as guardar mas esquecemos os vendavais que existem e não nos preocupamos em proteger aquilo que é nosso.
Não raras vezes, limitamo-nos a depositar tudo o que é nosso num outro alguém que na verdade nem conhecemos, acreditamos que o amor é de confiança e que nunca trai, oferecemos os nossos sonhos e assim construímos o nosso lar perfeito. Levantamos paredes finas e um telhado frágil, mas isso não nos incomoda, o que interessa é que erguemos o nosso abrigo. Vivemos assim no conforto do que só existe na nossa imaginação, não queremos mais nada e acreditamos que tudo aquilo é para sempre.
Duas vezes bate a desilusão á porta do nosso sonho, ignoramos o aviso e continuamos a viver o que não é verdadeiro. Não queremos abrir os olhos e esquecemos o que o passado nos ensinou. A desilusão por vezes é nossa amiga, alerta-nos no passado das mais severas coisas que magoam nosso coração, mas nós insistimos que temos sempre razão e continuamos…e pela terceira vez a desilusão bate á porta, nem dá tempo de resposta e rapidamente destrói tudo aquilo que construímos ao longo de muito tempo, mas que só existiu na nossa imaginação. É essa imaginação que nos faz criar ilusões, e só quem se ilude é que se desilude.
Por vezes precisamos de ser exigentes naquilo que queremos para nós. Não basta construir no imaginário é preciso passar tudo para a realidade. É difícil, mas se for verdadeiro e sincero resiste a tudo. E no fim, é preciso preservar.

Nunca ninguém disse que o amor era fácil.

A parte que eu não conhecia...

Nunca imaginei. Sempre soube que existias, sempre passamos lado a lado como desconhecidos. Por diversas vezes te reconheci ao longe. Sabia teu nome sem saber quem eras na verdade.
Cheguei ao ponto de te conhecer. Tocar teu rosto com os meus lábios no gesto de carinho normal de quem se vê pela primeira vez.
Só não sabia que tinhas vindo para ficar. Ficaste e permaneces. Ajudas-me a juntar peças do puzzle que é a minha vida, quando eu não a compreendo és tu quem ma explica.
Entre o teu coração e o meu utilizaste um fio feito de um material delicado e sensível no qual é impossível dar importância ao tacto, criaste através dele um caminho sem pedras, para se eternizar, um nó foi concebido e como uma cereja em cima do bolo, comemoras te tal ligação com um laço perfeito.
Dias e dias, noite após noite és tu quem está a meu lado mesmo em forma invisível. És tu o meu porto de abrigo em dias de tempestade na minha cabeça. São as tuas palavras que me embalam em cada noite, que me fazem adormecer tranquilamente nas nuvens da tua protecção. Talvez seja a ti quem devo a minha vontade de todos os dias me levantar da cama, dar bom dia ao sol e ao mundo e querer correr caminhos nunca antes conhecidos.
Só em pensar que posso perder tudo o que sem perceber me dás, faz correr em minhas veias um medo aterrador que se alimenta da minha fraqueza e que poderá um dia desfazer-me num pó que o vento levará para aquela rua que nunca chegamos a conhecer.

Em mim, existes mais tu que eu.

Promessa por prometer...

Houve alguém que fez uma promessa, houve alguém que desapareceu e levou a promessa consigo, houve alguém que começou aquilo que sabia que não ia terminar.
Agora a ti peço para não me fazeres promessas, elas não passam disso mesmo, palavras soltas ao vento expulsas de nós no auge da emoção, quando deixamos de lado a verdadeira realidade.
Essas palavras ditas, que no momento fazem o coração rejubilar de alegria e os olhos brilharem que nem diamantes, nascem para viverem enclausuradas numa garrafa e perderem-se na imensidão do esquecimento até que a sua validade ultrapasse os limites do tempo.
Comparo uma promessa a uma mentira disfarçada. Nasce para não perfurar um coração com a sua bala cheia de verdade. Mas eu não quero que me atires mais areia para os olhos, deixa-me ver tudo o que existe tal como é, quer seja bom ou mau, afinal é o que a vida me reserva. Não te preocupes com a minha fragilidade, o stock de lágrimas destinado a promessas incumpridas está prestes a esgotar-se. Aprendi que há ligações que se quebram e mãos que se unem, sem nós termos qualquer tipo de poder sobre elas. Não faças promessas que de nada valem.
Não quero mundos nem fundos, nem amor prometido, quero apenas que me dês o que sabes e deixa o amanhã trazer o que te devo.
É de minha livre vontade viver na incerteza do incerto, descobrir a nova luz de cada nascer do dia, saborear cada momento sem pensar se tinha ou não tudo aquilo prometido.
Queres que diga se te amarei eternamente? Não sei. Mas enquanto o amor existir eu vou te amar.

As tuas estrelas...

É mais uma noite á espera de um novo amanhecer. Mais um caminhar em direcção ao quarto, uma visita ao travesseiro que todas as noites escuta os meus desabafos e abraça os meus pensamentos guardados em segredo.
Vou, quase como se fosse um ciclo vicioso, até á janela, afasto as cortinas, abro-a e escuto o que há lá fora. É estranha a noite. Tem o seu jeito inocente de levar pela mão cada um a adormecer tranquilamente e tem o seu lado assustador, a escuridão que acompanha cada noite tem o prazer de encobrir cada passo, cada grito, cada olhar.
Observo através da minha simples janela, o meu olhar provavelmente se perderia na hipótese de não existir aquela luz ao fundo da rua que ganha por segundos género de vida própria e insistentemente guia meu olhar e prende o meu pensamento. Foco-me nela, penso e volto pensar, o porquê de necessitar de visitar a noite, qual o significado da partilha de segredos que entre nós fazemos, por que motivo me sinto eu acompanhada por aquele silêncio que me diz tantas palavras.
Um vento fresco toca no meu rosto e me faz sentir o cheiro da Lua que embeleza este momento. A noite provoca em mim um sentimento de solidão, mas quase que simultaneamente a sensação de conforto. Não há nada, apenas a noite e eu. Sozinha, meia que acompanhada, escuto o que o barulho do dia não permite, vejo o que a luz do sol não consegue alcançar. Olho o céu, tento contar as estrelas que tornam esta noite mais acolhedora, pensei dar um nome a cada uma delas, mas a sua essência está no seu anonimato, prefiro preserva-las como singelos ser estranhos que apenas me observam. Chego a interrogar-me se tu, naquele preciso momento, olhas o mesmo céu que eu, se as estrelas que te vêem dormir são as mesmas que me falam ao ouvido. Quantas estrelas tem o teu céu?
É assim que o cansaço chega, tal como um aviso e me diz que é hora da despedida. Apreendo no meu olhar tudo o que vejo, afasto-me da janela, fecho-a. Volto á minha cama, abraço-me aos lençóis e deixo a minha cabeça se reconfortar no travesseiro e relembro como se fosse película de filme toda a noite que vi e ainda vejo só em mim.

E o teu céu, quantas estrelas tem?

A flor...

Ainda tenho aquela flor. A flor com pétalas delicadas, com um cheiro agradável, com uma cor apetecível de abraçar. Hoje ainda a tenho, a flor que tu me deste.
Foi num dia de Primavera que estavas de mãos dadas comigo que paras-te quando vislumbraste a teu lado um canteiro colorido e sorriste inocentemente para mim. Eu fiquei a olhar para ti, como sempre, hipnotizaste-me com esse sorriso de menino rebelde mas sensível. Insisti para continuares a caminhar a meu lado, mas tu recusaste. Obrigaste-me a parar e eu cheia de vontade de continuar caminho, nunca gostei de estar muito tempo no mesmo sítio e tu sabias bem isso, mas naquele momento pediste carinhosamente para esperar uns instantes e apreciar aquela pequena bela paisagem.
Após uns segundos de silêncio pediste-me para escolher a flor que gostava mais. E eu num gesto rápido e quase que inconsciente apontei para aquela flor de cor lilás, que nunca antes havia visto mas que despertou logo em mim admiração. Estava acompanhada de outras flores também elas bonitas, mas bastante comuns, esta destacava-se pela sua leveza e simplicidade.
-“É aquela, é aquela a flor que eu gosto mais” – disse eu enquanto apontava.
Tu, largaste subtilmente minha mão e caminhas te em direcção a ela. E com as tuas mãos fortes mas ao mesmo tempo suaves recolheste tal flor. Voltas-te ao pé de mim e entregaste-ma. Com o meu sentido crítico, reprovei a tua crueldade de teres roubado a flor daquele jardim. Mas pacientemente sorriste para mim, olhaste-me com carinho, ignoraste as minhas palavras e colocaste a flor no meu cabelo. Pregaste teu olhar em mim e disseste com palavras amorosas que tal flor só conseguiria ter uma beleza completa se estivesse junto a mim. Fiquei sem palavras, agarrei tua mão e voltamos a caminhar.

Obrigada pela flor.
Ainda hoje tenho aquela flor, que sem medo prendeste eternamente a meu coração.
Ainda tenho a flor, a flor que me deste.

Caixinha...

Por vezes paro no tempo. Absorvo como que com uma esponja toda a minha personalidade, forças e vontades para dentro daquela caixinha que em tempos alguém me deu. Pintada de azul da cor do mar, protege tudo o que eu sou por uns instantes e assim fico apenas eu sem mim. Ali dentro contemplo com nostalgia tudo aquilo que foi e que nunca mais será conjugado no presente do verbo ser.
É nestes momentos que me sinto livre de tudo, onde apenas me prendo a algo que me dá prazer. Não há consciência apenas sentimento. Mergulho no mar de incertezas que no fim da viagem me faz chegar a uma ilha de certezas.
Minha alma percorre lugares que só ela conhece, atravessa memórias de que só ela tem a chave.
Meu corpo, esse fica impávido e sereno, permanece intocável tal como o deixei, apenas marca presença e é o meu ponto de chegada ao mundo real. E é num passo de mágica que aterro meia atordoada a este meu corpo. Reparo que tudo se mantém igual. Observo pela janela e o mundo continua lá fora, o vento continua a soprar.
Aquela caixinha volta para a prateleira e de lá recolhe cada passo dado na minha vida, quando tiver saudade, basta abri-la e sentir o cheiro do passado.

A metade...

Perdi metade das minhas palavras, reparei que tinha o bolso esquerdo rasgado e por ele fugiu tudo o que lá havia. Perdi assim metade de mim, resta-me reconfortar-me em desabafar com as palavras que ainda restam, que bem ou mal lá tentam traduzir o que vai em cada pedaço de mim.

São poucas eu sei bem, mas com pouco se faz muito e com nada se transforma tudo.

É um não saber...

Vou ver o que não vejo, dizer o que não sei, sentir o que não conheço, contar o segredo que não tenho. Quero ir ali mas não tirar os pés daqui, sentir o vento deste dia abafado, sentar no ar mas não parar, no fim de contas quero o que não sei, quero o que não tenho.
Vou dar um passo, dois passos, três passos, vou olhar para a esquerda e para direita, olhar para o chão e para o céu, tentar encontrar o que não existe e acalentar-me com o que não encontro.
Existe um vazio que só por si só enche uma parte da vida, se não fosse ele, se não fosse o desejo de o preencher não existiria uma vontade de avançar, de encontrar o segredo que diminui a ausência e aumenta a presença. Sei da tua existência e qual o teu valor, acabo por te procurar aqui, ali e acolá mas não sei porque nasceste nem se vais morrer.
És a minha sombra constante que me persegue mesmo em dias nublados, és o outro lado das minhas lágrimas, o verso das minhas páginas, o reflexo do espelho. Sinto-te sentado a meu lado a estabelecer um diálogo incolor, a tocar cada pensamento meu que vagueia pelo caminho sem estrada.
És parte de mim, já aprendi a viver com o teu lado de nada. És o vazio que me faz companhia e por ti prometo encontrar a essência que num toque de magia te torna cheio e liberto de mim.

O segredo do Segredo.

E é um evoluir constante, uma procura desenfreada de respostas para tudo e mais alguma coisa, uma curiosidade que por vezes mata a essência daquilo que na verdade não tem explicação.
Que o Homem é curioso isso ninguém pode negar e ainda bem que assim é, precisamos de avanços a todos os níveis para nos desenvolvermos, mas talvez tenhamos chegado a um limite onde as respostas já não existem, onde as perguntas são já rebuscadas em demasia e são carentes de sentido.
Quando tudo já tem explicação caímos no ridículo e atingimos o momento de questionar o inquestionável. Actualmente são feitos estudos, pesquisas, teses…sobre o quê? Sobre o AMOR! E quanto tempo dura? De onde nasce? Porque se sente? É verdade que tal sentimento suscita variadas interrogações, mas defendo que a maior parte delas são retóricas. Como já ouvi dizer, o amor não se explica, sente-se. Talvez porque já tenham explicado cada molécula, cada doença estrambólica que aparece, cada comportamento do mundo animal, ao pormenor, os cientistas necessitam de encontrar algo para ocupar o tempo e iludir as pessoas. Quem sabe um dia não inventam um medicamento que domine todas as hormonas e faça aquela tal pessoa se apaixonar por nós, quem sabe se já não existe tal comprimido milagroso.
O problema infeliz é que hoje em dia o amor já não se sente mas explica-se, ora até acho isto “natural”, visto que este mundo anda todo às avessas.
Mas, valerá a pena explicar algo tão belo como o amor? Tem efeitos incompreensíveis nas pessoas é verdade, mas a sua pureza é isso mesmo, provocar reacções fabulosas capazes de tornar alguém feliz. Não vamos explicar aquilo que não tem explicação, ou então vamos desperdiçar tempo precioso e deixaremos de viver o que realmente interessa. O que importa é amar e ponto final.

Amem e não questionem, sintam e sejam felizes.

Note.

[Imagens recolhidas do Google e do DevianArt]

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