Começam a ser escassos os dias que falta contar até ao fim do calor. É natural agora deslumbrarmos com uma certa nostalgia o cedo anoitecer, uma brisa mais brusca e fresca visita-nos mais constantemente.
O Verão, a época do ano talvez mais esperada, está de bagagens feitas prestes a embarcar para outra terra. Não deixa carta de despedida e agora nem data concreta de partida, mas aos poucos nos vai ensinando a dizer “Olá” ao Outono. Talvez numa noite escura e no maior dos silêncios, parta e nos deixe uma nova manhã, um novo acordar.
É certo que todos nós guardamos na memória aquelas belas tardes quentes da nossa infância, onde esgotávamos energia ao tentarmos acompanhar a vivacidade do sol. Deitávamo-nos na relva, absorvíamos aquele cheiro fresco e adormecíamos embalados num momento de pura liberdade. Durante aproximadamente três meses as horas não existiam, o tempo não precisava de parar mas também não corria, era uma bela companhia para as brincadeiras. Sorrisos eram esboçados na maior das inocências, a música imponha ao nosso corpo uma balançar intermitente e saboroso. E a praia? Não havia alegria maior para uma criança. A água, a areia, o sol…a perfeita conjunção, os castelos de areia construídos com todo o cuidado que depois o mar fazia o favor de desfazer, talvez ele se sentisse convidado para tal brincadeira. Permanecer longos minutos sentada á beira-mar, ao fim de uma tarde de diversão, a observar o dançar das águas e o seu brilho resplandecente não era nenhum sacrifício, mas sim uma dádiva.
Hoje, não é muito diferente. O Verão continua quente, a praia a mesma. A idade apenas um pouco diferente, mas a alegria intocável. Há liberdade para explorar os mais diversos sítios, sozinhos ou acompanhados. Fazem-se viagens sem destino, longas tardes deitados na areia fina, conversas sinceras com amigos. Histórias que escrevemos com a nossa vida num curto espaço-tempo. Noites quentes que nos levaram a estourar os nosso limites. Condensamos tudo o que queremos viver numa altura onde os dias parecem nunca acabar.
Mas acabam. E fica a saudade. Guarda -se as roupas frescas, os perfumes florais. Olhamos as fotografias e sorrimos ao recordar aquilo que passou e não volta mais. De cada momento fica apenas a recordação.
E olhamos o pôr-do-sol com uma lágrima no canto do olho, desejando que momentos felizes vividos há pouco tempo se repitam a curto prazo.