Um pouco de luz rasga-se por entre as cortinas da janela e mostram-me que já não é cedo, a manhã já vai longa mas o sono abraçou-me até agora. Tento olhar para o relógio mas a luz do sol ofusca-me o olhar e sinto ainda os olhos pesados e embriagados depois de uma noite que ainda não tive completa noção da sua história.

Sinto uma preguiça aberrante percorrer-me todo o corpo, e uma felicidade inexplicável a dominar a minha alma e a estampar-me um sorriso estúpido na cara de quem está apaixonada mas ainda não se apercebeu. Abraço-me aos lençóis brancos nos quais sinto um cheiro afável e familiar…desperta-me os sentidos e recordo com um impacto tremendo que aquela noite não foi tão comum como pensará, foi fugaz mas foi capaz de tocar a minha pele e arrebatar o meu coração. Sei bem que foste tu quem me amou durante toda aquela noite, que foi contigo a meu lado que adormeci e que é o teu cheiro que está estampado naqueles lençóis.

Dou meia volta na cama e um pequeno arrepio percorre-me a espinha. Um cartão em cima da travesseira que foi tua por uma noite, um “Amo-te” lá escrito que me fez mais que sorrir, soltou borboletas no meu estômago e um nervoso miudinho de quem encontrou o seu príncipe encantado.

Não sais-te de casa há muito tempo, o teu espaço na minha cama ainda solta o teu calor…

Não, não está tudo bem.

Há a saudade que corrói de tal forma o coração que acaba por nos sufocar a alma. Ultrapassa, que nem uma seta melindrosamente colocada no nosso corpo, toda a carne e osso com que se depara para chegar à parte nossa que jamais alguém virá. Atinge o nosso ponto fraco, o mais frágil e feio que nós teimamos em esconder.

Não vale a pena disfarçar que está tudo bem, quando na verdade, nos encontramos longe disso. Usamos uma máscara que compramos na loja que há tempos nos apregoa o juízo para nos ajudar a enfrentar um dia-a-dia mentiroso, mas apenas faz de nós mais uns estúpidos andantes nesta vida. Uns fracos desencorajados que se acomodam com todo o desmoronar que acontece a seu lado, com o desaparecer dos melhores momentos da sua vida. Porque nos achamos sempre fortes, deixamos para trás o que melhor nos aconteceu e não queremos sequer incluir o passado no nosso futuro.

E depois choramos! A saudade bate à porta e a máscara cai. Estamos sozinhos e afinal não há mais nada a esconder, choramos porque mais ninguém o vê.

Os momentos que ficaram amarrados aquela fotografia nunca mais se repetiram. Outros virão, mas certamente não serão as mesmas pessoas a estruturar toda aquela fotografia. A máscara, essa continuará igual.

Na verdade, só investimos tempo a fotografar bons momentos. Momentos esses que hoje estão estampados na parede no quarto, para a qual olhamos e dizemos: “Está tudo bem. Amanhã tudo se repetirá e será melhor”, mas não está tudo bem. Os momentos não serão iguais nem as pessoas serão as mesmas.

Note.

[Imagens recolhidas do Google e do DevianArt]

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