Paisagem

Olho para aquele jardim resplandecente, onde se vislumbra a mais perfeita junção de céu e terra. Encontro uma sensação de paz respirável, sinto o vento calmo e quente a passar pela minha pele, o sol descobre o mais perfeito brilho de meus cabelos que esvoaçam livremente. É neste momento que te sinto a meu lado, o teu perfume me abraça como gesto de segurança, tuas mãos tocam subtilmente nas minhas e arrepiam até o lugar mais obscuro de minha alma, finalmente é o teu beijo que desperta em meu corpo todas as sensações imagináveis, sinto-te em plenitude e só isso me basta para mergulhar no maior prazer, que é o de te ter e sentir-te. Tenho a certeza que tu és o responsável pela minha existência, tens uma capacidade enorme de me proteger e mostrar o lado mais perfeito da imperfeição.
Sinto uma rajada de ar, frio e aterrador. Já não estás a meu lado, já não me abraçass e caio num precipício de desilusão. Afinal tudo isto foi um sonho. É verdade, não voltas-te para mim, apenas voltei a recordar aquilo que já somos e nunca mais voltaremos a ser. Fecho os olhos de novo com esperança de voltar ao irreal, mas volto a ver um jardim, mas desta vez um jardim pálido, vazio. Volto a ver-te ao fundo e corro para ti, vontade enorme de te abraçar, mas, abraço apenas uma lufada de ar, tu não estás. Dói tanto não te sentir, mais até do que abraçar uma pedra dura e que hipoteticamente possa ter espinhos.
Tu, estás bem longe do meu coração gelado e muito mais longe da minha vista. Já há muito tempo que não te vejo, apenas tenho uma ligeira recordação do teu rosto nos meus sonhos, pouco me resta de recordação física tua, mas ainda consigo sentir teu cheiro, são raras as vezes, mas sinto. É verdade, não temos um presente junto mas já tivemos um passado nosso, lembras-te? Quer queiramos ou não esse passado fará sempre parte das nossas vidas. Por mais insignificante que eu possa ter sido para ti, apesar de tudo tive o privilégio de ter entrado na tua vida e de te ter na minha, e sei que também gostas te de ter marcado a minha história.
Agora, apenas te recordo nos meus sonhos, e já começam a ser escassos. Já não dói tanto ter de gostar cada vez menos de ti, a réstia de carinho que ainda sinto por ti vai se esgotar, talvez eu volte a ser livre de novo, volte a ver o jardim colorido e tranquilizador, mas desta vez sem ti, apenas eu. Não serás razão suficiente para eu fechar os olhos a metade da beleza do que me rodeia. A verdade é que contigo ou apenas comigo, eu vivo e orgulho-me disso.
Obrigada. Obrigada, por me teres feito crescer, por me ensinares que afinal eu sou lutadora capaz de enfrentar uma perda, e melhor que tudo, ensinaste-me a amar-me e eu agradeço-te isso do fundo de meu coração.

Oiço agora o tick tack do relógio. Shiuu, ele avisa-me que a vida passa, não há tempo a perder, a vida pode voltar a ser minha e eu posso voltar a ser feliz.

Até um dia.

3 comentários:

Nádia Ribeiro disse...

Adorei este texto mesmo, o meu favorito!
Tens muito jeito e um vocabulário como eu adorava ter.
Muitos parabéns! Continua a escrever ;)

Anónimo disse...

Sem dúvida alguma fantástico :D
Tocou-me mesmo lá no fundo quando o li pela primeira vez.
E depois do que me disseste hoje ainda entendo melhor o facto de ter gostado tanto dele. É que realmente está muito bem escrito.
E como diz a minha prima...parabéns :)

Lilly disse...

- Custa imenso quando se ama e essa pessoa nos deixa, o que nos resta dela são recordações, meras recordações. É triste, mas não há escolha ... Mas se amamos não devemos deixar de lutar.
Beijinhos *

Note.

[Imagens recolhidas do Google e do DevianArt]

Friend(s)