No banco do costume...

Olhei para o relógio e passavam cinco minutos desde que ali estava sentada. No meio do jardim, no banco do costume. A mesma cor verde da relva, os constantes gritos das crianças que por lá corriam, o tranquilizador falar das gotas de água que passeavam no riacho ali há muito existente. Muda, observava cega tudo o que acontecia á minha volta, no fundo estava alheia a toda aquela vivacidade. Olhei de novo para o relógio e já tinham passado uns longos dez minutos desde da última vez. O meu coração começou a palpitar umas mil vezes mais depressa, parecia querer fugir do meu peito e correr á tua procura.

Sei, que inconscientemente tinha a leve esperança que toda aquela espera fosse para mais um dos nossos encontros, mas daquela vez não havia razão para olhar ao fundo da rua e ver-te chegar, estavas uns tantos quilómetros distantes de mim e eu sabia disso.

Ainda ontem tínhamos estado juntos e arrebatado com todas as nossas saudades. E hoje estava eu ali sozinha. Já aprendi há muito que sem ti perto de mim as horas demoram o dobro a passar, por isso mesmo decidi voltar ao jardim e ao banco do costume. Precisava urgentemente de sentir o ar suave e fresco daquela tarde, expulsar de mim certas ideias tóxicas e viajar pela minha imaginação.

Normalmente tenho á minha beira um papel e uma caneta para anotar todas as minhas ideias que nascem de uma inspiração relâmpago, mas naquele momento nem isso tinha, senti um vazio a triplicar. Depois de me irritar comigo própria por tal esquecimento inadmissível tive de me contentar em guardar nas gavetas da minha memória as ideias que me assaltavam repentinamente. Até acho que no meio de tanta imaginação brotaram de mim ligeiros sorrisos que contradiziam o meu estado de espírito solitário.

Confortavelmente sentada e talvez com um olhar perdido, viajei apenas na minha companhia num barco á vela, igual aqueles que juntos já vimos, atravessei mares calmos e recolhi aquele azul brilhante que os caracteriza, senti na minha pele aquela brisa marinha tão revitalizante, vi pequenos habitantes do mundo marinho que vinham até á borda da água dar-me as boas vindas, toquei na água fresca e deixei-a percorrer parte do meu corpo e desaparecer com o calor daquele sol tórrido, passei perto de uma ilha deserta que era dona de uma vasta selva que transpirava sossego e pureza.

Sem aviso um vento forte arrastou-me até á margem e aí reparei que afinal não tinha saído daquele jardim e do banco do costume. Olhei para o relógio e já passava uma hora desde que ali tinha chegado. Resolvi levantar-me e caminhar até casa. Continuei com um sorriso no rosto, afinal viajei sozinha por lugares que na realidade receio e os minutos passaram mais rápido do que o esperado.

Não tirei fotografias, ao que na verdade não vi, porque prefiro através das minhas palavras contar-te cada milha percorrida. Sei que agora, tenho te a ti para partilhar todas as minhas aventuras e juntos sorrirmos das ideias descabidas que possam surgir.

Não gosto de andar sozinha, mas naquela viagem ilusória não tive receio, trazia-te no coração e isso já bastava.

3 comentários:

Anónimo disse...

Já tiveste aquela sensação de gostares de um texto e querê-lo comentar, mas sem saberes que dizer? Espero que já para perceberes o que sinto neste momento com o teu texto.
Já agora, tens que me dizer onde fica esse tal banco para eu poder fazer umas viagensitas também. :)

*

Andreia Morais disse...

o texto está perfeito, perfeito *.*
Beijinhos

Mel disse...

" E hoje estava eu ali sozinha " - certamente às vezes precisamos de o nosso tempo , do nosso lugar sozinhas , para pensar , para libertar tudo o que nos vai na alma , por vezes faz bastante bem . tu escreves tão bem :)

Note.

[Imagens recolhidas do Google e do DevianArt]

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