Guardian Angel

Saio de casa á pressa, cega, surda e muda. Com um ar ainda sonolento pego inconscientemente nas chaves de casa e percorro o percurso de sempre, aquele que me dá sem voz um “Bom dia” que faz meu corpo lentamente sentir o novo dia que acorda e corre sem esperar por ninguém.
Sinto em mim o peso de um corpo sem dono nem movimento, apenas centrado nuns pés frágeis que caminham em direcção ao nada.
Ignoro o exterior e deixo-me flutuar no mar de pensamentos que inunda minha cabeça. Esqueço de olhar as cores, de respirar o ar, de sorrir aos corpos sem nome que deambulam a meu lado. Vivo certamente num mundo á parte que espera um grito de guerra, que eu ainda não tenho forças para dar voz.
Olho para o meu lado esquerdo de relance e vejo algo que não consigo identificar. A cegueira que domina meus olhos impede-me de decifrar o vulto que observei refugiar-se numa sombra pálida. Não sei quem és, mas já te vi sem ver várias vezes, desconheço teu rosto, recolhes no teu olhar apagado cada centímetro do meu corpo, mas não me dás o prazer de te visualizar á luz do sol que te aquece tanto a ti como a mim. Mas sinto a tua presença como se o teu corpo estivesse colado ao meu. Como consegues?
Responsável és tu pelo nascer de perguntas intermitentes no meu cérebro descontrolado. És tu que me adormeces todas as noites? Pertencem a ti as mãos que cuidadosamente desembaraçam cada madeixa do meu cabelo adormecido? É teu o corpo que me abraça no respirar silencioso da noite? És tu quem me beija sem lábios ao todo anoitecer?
Como conheces tu todos os meus medos? Como sabes que tenho medo de caminhar sozinha?

Quem és tu?

1 comentário:

Jessica disse...

obrigada pelo comentário.
(vou seguir o teu blog) *

Note.

[Imagens recolhidas do Google e do DevianArt]

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